“Coringa 2”: um show de atuação num filme sem propósito
“Coringa: Delírio a Dois”, dirigido por Todd Phillips, é mais um exemplo da tendência atual de Hollywood de explorar universos cinematográficos de sucesso sem, necessariamente, trazer algo de novo ou relevante para o público. Após o impacto profundo causado pelo primeiro filme, que rendeu a Joaquin Phoenix o Oscar de Melhor Ator, a expectativa para essa sequência era altíssima. No entanto, a continuação parece sucumbir à pressão comercial de manter um personagem icônico nas telas, sem se preocupar com a necessidade de uma trama realmente envolvente.
O filme se destaca tecnicamente, especialmente no que diz respeito à fotografia e à trilha sonora. A atmosfera sombria e opressiva de Gotham ainda é retratada com maestria, e a música trabalha bem para intensificar o clima caótico que cerca Arthur Fleck. Contudo, o verdadeiro problema de “Coringa: Delírio a Dois” reside na falta de uma história que sustente seu potencial. A trama patina em lugares-comuns, sem a profundidade psicológica e social que tornou o primeiro filme tão singular. O roteiro, que deveria carregar o peso de uma continuação, simplesmente não está à altura do desafio.
Joaquin Phoenix continua a oferecer uma atuação intensa, provando mais uma vez seu talento para capturar a insanidade e o sofrimento de Arthur Fleck. No entanto, sua performance parece estar em um nível muito superior ao restante da obra, como se ele carregasse o filme inteiro nas costas. O desequilíbrio entre a força de sua atuação e a falta de substância no enredo é evidente, o que torna “Coringa: Delírio a Dois” um exercício frustrante de desperdício de talento.
Lady Gaga, por sua vez, interpretando Harley Quinn, surge como um adorno ao lado de Phoenix. Sua participação, embora carregada de expectativas, se resume a um papel coadjuvante, sem a complexidade que a personagem merece. A personagem parece mais uma desculpa para incluir números musicais na trama, aproveitando-se da fama da atriz-cantora, mas sem contribuir efetivamente para a narrativa. Gaga, entretanto, soube capitalizar a oportunidade, lançando o álbum “Harlequin”, que, por si só, possui muito mais personalidade do que o filme em que está inserida.
Ouça “Harlequin”: