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“Emilia Pérez” é uma vergonha para o Oscar
É sabido que, para se conquistar um Oscar, não basta só uma campanha de lobby bem orquestrada – é imprescindível que o filme demonstre qualidade técnica e artística de fato. Normalmente, os indicados são aqueles filmes densos, com roteiros afiados, histórias reais ou produções grandiosas, que possuem, mesmo que de forma surpreendente, um mérito técnico que justifique sua presença na maior premiação do cinema. Basta lembrar, por exemplo, de “CODA – No Ritmo do Coração”, vencedor de 2022, que mesmo fugindo do estereótipo de “filme de Oscar”, provou que a qualidade técnica existia.
Dito isso, indicar “Emilia Pérez” em nada menos que 13 categorias é, sem sombra de dúvidas, o maior surto da história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. E não se trata aqui de uma crítica à campanha do filme do cineasta francês Jacques Audiard, mas sim de como uma verdadeira bagunça – que mais se assemelha a um desastre técnico e artístico – conseguiu, inexplicavelmente, se tornar um dos recordistas de indicações. Chega a ser vexaminoso!
É inadmissível que categorias de precisão técnica, como a de Melhor Fotografia, estejam reservadas a um filme cuja imagem é uma confusão completa, enquanto obras como “Conclave” são deixadas de lado. Do mesmo modo, ver a categoria de Melhor Diretor ignorar nomes como Walter Salles, de “Ainda Estou Aqui”, e, em contrapartida, colocar “Emilia Pérez” como indicada, é um insulto à seriedade e ao mérito que o Oscar deveria prezar.
Se formos falar sobre o musical, o problema se torna ainda mais gritante: a cada nova canção, a pior música de “Emilia Pérez” se revela. Nenhuma consegue se salvar. “La Vaginoplastia”, por exemplo, é uma das mais vergonhosas, com uma letra ridiculamente simplista e risível, que trata de maneira barata o procedimento médico que a protagonista está prestes a enfrentar. Pior do que ver essas letras esquecíveis – “El Mal” e “Mi Camino”, ambas indicadas na categoria de Melhor Canção Original – é ter pena de uma atriz talentosa como Zoe Saldaña, que se vê forçada a se desdobrar em números musicais toscos, sem qualquer resgate artístico.
Na trama problemática de “Emilia Pérez”, acompanhamos Rita, uma advogada a serviço de uma grande empresa, cuja inclinação é mais para inocentar criminosos do que servir à justiça. Ela recebe a tarefa absurda de ajudar um líder fugitivo do cartel mexicano a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual – uma premissa que, se bem trabalhada, poderia render um thriller instigante, mas que, na prática, se transforma num emaranhado de inconsistências e mediocridade.
Indicar “Emilia Pérez” em 13 categorias é, sem dúvida, um dos maiores equívocos da história do Oscar – um episódio que, no futuro, será lembrado com constrangimento.