Luiz Hermano volta à Amparo 60
No próximo dia 10 de agosto, a partir das 19h, a Amparo 60 recebe a exposição do artista cearense, radicado em São Paulo há mais de 40 anos, Luiz Hermano. A mostra, que tem curadoria de Walter Arcela, propõe uma fricção entre as poéticas de Hermano e do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, sendo o seu título retirado do poema Graciliano Ramos, de 1961.
O nome de João Cabral surgiu nas conversas entre artista e curador, despertando a ideia de relacioná-los. “Tenho admiração pelo poeta na forma direta que escolhe e usa as palavras. Sempre o admirei pela visão de revelar o social e a política”, conta o artista. “Decidimos friccionar a poesia de João Cabral de Melo Neto com a poética de Luiz Hermano. A poesia de João Cabral foi marcada pelo rigor estético que o fez estruturar seus versos imbuídos na economia lexical que configuraram justamente sua potência. Para ele, um poema se faz somente com as mesmas vinte palavras. Assim como Hermano em seus trabalhos’”, detalha o curador.
São cerca de 20 obras que representam o percurso de mais de 46 anos dedicados à arte, ressaltando aspectos gerais de suas obras que marcam sua produção. “Essa mostra é mais sobre desvelar aspectos da feitura que se mostram presentes ao longo da trajetória de Hermano, do que apresentar uma produção momentânea dele”, detalha o curador. O artista vai expor esculturas em materiais diversos, tais como cobre e madeira.
“Hermano trabalha com uma geometria oscilante. Essa determinação visual que não consegue ser completamente apreendida. Ele ao mesmo tempo que se aproxima da filiação da arte concreta e construtiva brasileira também se afasta. Existe um desejo de ordenamento nas formas geométricas, as matizes construtivas da sua obra, mas trata-se de uma geometria imprecisa, mole, que brinca com sentidos da geometria; Existe um grau de organicidade muito grande”, aponta Arcela.
Há ainda uma seleção de desenhos inéditos feitos com café e lápis de cor que remontam ao início do seu despertar para a arte, quando, ainda criança, no interior do Ceará pintava com café por não ter acesso a tintas. “Esses desenhos são construções geométricas que vão se organizando e são quase esboços das esculturas que ele vai elaborar depois, permitem uma ilustração dessa matriz geometrizante”, explica Arcela.
O ARTISTA
Preaoca (CE), 1954 | Vive e trabalha em São Paulo (SP), Brasil. Luiz Hermano Façanha Farias estudou filosofia em Fortaleza no início dos anos 1970 e, desde sempre, desenha. No início, sem acesso a tintas profissionais, pintava com café. Em 1979, frequenta aulas de gravura naEscola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, transfere-se para São Paulo e a convite de Pietro Maria Bardi, realiza a mostra “Desenhos”, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Em 1980, edita o álbum de gravuras intitulado “O Universo”.
Em 1984, ao receber o Prêmio Chandon, viaja para Paris, onde realiza exposição individual na Galeria Debret. Participa da 5ª Bienal Internacional de Seul (1983), e da 2ª Bienal Pan-Americana de Havana (1986). Na década de 1980, dedica-se, sobretudo, à pintura. Nos anos 1990, desenvolve obras tridimensionais utilizando materiais diversos, como cabaças naturais, fios de cobre, arame, capacitores eletrônicos, ligas de bronze, alumínio, peças de acrílico e vários tipos de peças industrializadas, deslocadas do cotidiano. Em 1987, expõe pinturas na 19ª Bienal Internacional de São Paulo e esculturas na 21ª edição do evento, em 1991. Em 2005, participa da exposição “Discover Brazil”, no Ludwig Museum, Koblenz, Alemanha.
Em 2008, realiza a exposição “Templo do Corpo”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo nesta ocasião publicado o livro: ”Luiz Hermano”. A monumentalidade na obra de Luiz Hermano, se apresenta em diversos espaços públicos. Em São Paulo, nos jardins do Museu de Arte Contemporânea da USP, Cidade Universitária; no metrô Estação República, nos jardins do Museu de Arte Moderna de São Paulo e em Recife, Pernambuco a obra Mandacaru, medindo 7 metros, encontra-se exposta no Museu Cais do Sertão. O artista divide seu tempo entre o ateliê e o mundo, como escreve Katia Canton: “As viagens são formas de reivindicar territórios, consagrando ao artista um reservatório cada vez mais denso de experiências de mundo. Paisagens, templos, histórias de gente e de coisas vistas no caminho, tudo se acumula na espessura de um novo trabalho.”