Novo filme de Anna Muylaert põe as garras para fora e gera debate acirrado
Começo este texto concordando com a afirmação do ator Luís Miranda na coletiva de imprensa do filme “O Clube das Mulheres de Negócios”, durante o Festival de Cinema de Gramado no último domingo (11): “é muito complicado entender um olhar”. Com base nisso, ressalto que o trabalho de crítica de cinema é um dos mais desafiadores dentro da estrutura jornalística. É difícil avaliar a subjetividade do outro.
Embora eu aprecie profundamente o trabalho de Anna Muylaert, conhecida por filmes como “Que Horas Ela Volta?” e “Durval Discos”, seu mais recente projeto, “O Clube das Mulheres de Negócios”, parece ser uma exceção ao meu gosto pessoal. O filme diverge consideravelmente do padrão que eu geralmente associo à diretora.
Exibido na Mostra Competitiva do festival, que ocorre na Serra Gaúcha até 17 de agosto, o filme explora um argumento central: as dinâmicas de poder entre os gêneros. Anna aborda o tema invertendo o patriarcado, com mulheres em posições de autoridade e homens assumindo papéis de submissão. A narrativa privilegia o feminino em diversas esferas da sociedade. Dentro dessa ficção, a diretora perpetua a desigualdade por meio de uma história com múltiplas camadas de crítica.
Embora a abordagem seja provocadora, especialmente ao tratar de abuso sexual, ela reflete uma inversão de uma realidade que para nós é muito concreta. A dificuldade em aceitar o drama masculino pode estar ligada à familiaridade com essa realidade, onde tal inversão não existe. Esse aspecto também se revela um trunfo do filme: deslocar a dor da vítima para o opressor.
No entanto, minha principal crítica refere-se ao viés cômico da trama. Embora “O Clube das Mulheres de Negócios” conte com alguns dos maiores nomes da comédia brasileira, como Katiuscia Canoro, Grace Gianoukas, Maria Bopp, Verônica Debom, Polly Marinho, Shirley Cruz, Helena Albergaria, Irene Ravache, Luís Miranda e Ítala Nandi, a comicidade do filme não provém tanto das interpretações desse elenco de peso, mas dos detalhes, como a personagem Brasília, interpretada por Louise Cardoso, que atua como uma governanta para o clã de poderosas. Esses toques sutis de crítica são mais eficazes do que o humor exagerado.
Contudo, é importante reconhecer que “O Clube das Mulheres de Negócios” é um filme relevante, capaz de provocar e aprofundar o debate sobre temas importantes. Anna Muylaert, com sua visão política aguçada, apresenta críticas significativas, como a sexualidade feminina na terceira idade e o impacto das estruturas de poder e ostentação na natureza e na sociedade.