Samico e Bajado reverenciados nos 2 anos de fundação da Galeria Marco Zero
No próximo dia 29 (quarta-feira), a Galeria Marco Zero, no Recife, comemora dois anos de funcionamento, tempo que bastou para que o espaço virasse referência nacional na área das artes plásticas. Para marcar a data, Marcelle Farias e Eduardo Suassuna, dupla à frente do espaço expositivo, elaboraram uma programação que envolve duas grandes exposições simultâneas sob a curadoria da pernambucana Ariana Nuala.
“Estamos felizes demais em trazer essas mostras neste momento especial para a Galeria, por isso pensamos em algo que presenteasse os amantes de Arte, nosso público. São nomes importantes no Brasil e no mundo, e que tem suas histórias intimamente ligadas à Olinda e ao Nordeste. Para a exposição de Bajado, trouxemos um conjunto de painéis que foi adquirido pela Pinacoteca de São Paulo e gentilmente cedido pela instituição para a mostra na Marco Zero. E Samico é um nome basilar também na nossa história, uma vez que foi com uma mostra desse artista, com curadoria de Moacir dos Anjos, que inauguramos há dois anos.”, lembra Marcelle.
A curadora Ariana Nuala explica o recorte das mostras: “Estamos trazendo a singularidade de cada artista. Samico e Bajado, apesar de morarem em Olinda, serem pernambucanos, têm histórias e trajetórias poéticas bem distintas, então optamos por duas exposições, com dois títulos distintos. Uma se chama “Janelas de Bajado” e a outra, “Festa para o Caçador”, que é de Samico.”, revela.
Ainda segundo Ariana, serão apresentadas mais de 50 obras de Samico, incluindo desenhos e estudos, matrizes, uma série de etapas para que cada gravura ficasse pronta: “Traremos ainda pinturas, incluindo um retrato que ele faz de sua esposa, Célida Samico, com algumas palavras dela sobre as obras, nesse lugar de interpretação. O nome “Festa para o Caçador” vem da obra “A Caça”, que parte de um conto do escritor Eduardo Galeano, mas que tem ainda uma interpretação de Célida, que vai falar sobre o movimento circular entre quem caça e quem é caçado. A Festa para o Caçador é fazer uma festa para quem caça, tendo uma perspectiva de estratégia também de continuar a vida, isso é muito bonito, pensando como um caçador, alguém que você pode lhe ensinar a fazer uma festa e a comemorar, a criar esses ritos, que eu acho que é uma presença que a gente sente muito forte nas obras de Samico.”, explica.
De acordo com a curadora, “Janelas de Bajado” traz também cerca de 50 trabalhos, na maioria pinturas, além de um estandarte, retratando a perspectiva das multidões, pensando os festejos populares, procissões, o futebol, uma relação de religiosidade forte, mas ao mesmo tempo do frevo, das manifestações culturais. “Pretendemos contrapor a noção de Bajado como um artista primitivo, um artista naif, algo que discordamos completamente, então vamos mostrar o olhar intenso que ele tinha sobre essas manifestações, que são consideradas folclóricas. Traremos ainda o documentário “Bajado um Artista de Olinda”, da cineasta pernambucana Katia Mesel, além de fotografias do escritor, escultor, cineasta e fotógrafo Liêdo Maranhão, que trazem momentos de Bajado – que era letrista, cartazista, pintor, cinéfilo -, enquanto morador de Olinda e brincante”, acrescenta.
A CURADORA – Ariana Nuala se relaciona com coletivos artísticos que discutem questões relacionadas a poder e permanência, buscando tramas visíveis e invisíveis que tornam possíveis as existências de práticas coletivas que constantemente atualizam as noções sobre diáspora. Combinando estratégias que começam no corpo e se condensam em escrita, propõe fazer de seu exercício na curadoria um exercício poético. É formada em Lic. em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestranda pelo PPGAV da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em História da Arte. Tem formação no programa acadêmico de campus expandido Museos/Anti-Museos na UNAM (2019) e recebeu diploma superior em Estudos Latinoamericanos e Caribenhos pela CLACSO (2021). Atualmente é Gerente de Educação e Pesquisa na Oficina Francisco Brennand, é articuladora no CARNI – Coletivo de Arte Negra e Indígena e também é atuante no Nacional TROVOA, coordena a plataforma independente Práticas Desviantes e o PULO – Plataforma de Estudos sobre Imagens da Diáspora.
Sobre a Galeria Marco Zero
Fundada por Eduardo Suassuna e Marcelle Farias, a Marco Zero foi concebida para ser um lugar de encontro para o qual confluem diferentes gerações e correntes artísticas. Da arte moderna à contemporânea, artistas consagrados alinham-se com talentos em ascensão, em um constante diálogo no qual o visitante é convidado não só a ser um espectador, mas também um participante do pensamento sobre arte e cultura. A partir da sensibilização do olhar, com exposições, cuidado no processo de pesquisa, atividades educativas, a galeria busca ser um ponto de fomento e convergência, colaborando na formação de novos colecionadores e públicos para as artes visuais.